Há três anos que não a vi-a e encontrá-la, por casualidade, foi uma surpresa bastante boa. Saber que diante de mim tinha alguém que não se esquecera do abraço, das palavras e, mesmo passado tanto tempo, continuava igual. Sempre bem disposta, com um sorriso aberto e um rasgo de saudade. Desfrutámos daquele momento que o acaso nos proporcionou, mesmo o tempo tendo sido pouco. Roubámos sorrisos uma à outra, as palavras foram trocadas pelo silêncio e estreitámos laços com os braços bem abertos.
A Vera.
Também as reencontrei. Um grupo maior. Todas meninas num jantar bem-humorado. Com várias historias para contar e ouvir, muitas e muitas gargalhadas, movimentos patetas e sem sentido, as memórias dos últimos anos, a alegria, a partilha e a comida. O entusiasmo, sem duvida. Haja tempo para mais momentos como estes.
Encontrá-las é, sem dúvida, descobrir em mim um, e mais um, sorriso.
O Jantar da Ana.
Olhar para ela e saber que ali o tempo já não é tempo, que o sorriso se desvanece aos poucos e até a resmunguice. Saber que lutam pelas tuas coisas com unhas e dentes e tu serenamente sentada no meio daquela confusão. Ouves tudo mas não contas. São tantas as memorias que, possivelmente, o 'agora' passa-te simplesmente ao lado. É pouca a tua força de vontade. Mas olhas para as pessoas e procuras incessantemente a vossa ligação. São falhas da memória. Causadas por algo que se apoderou de ti, mulher cheia de vivacidade e de boa mão.
Mas o que realmente me surpreende é o teu sorriso. O teu rosto coberto pelas rugas e os teus olhos azuis, sempre fundos. Perdidos.
A avó. E a alzheimer.
Depois de tantas palavras, fiquei simplesmente sem saber o que dizer. Os avanços e os recuos baralham-me. Fico exausta. E calo-me. Observo as ruas. As luzes dos candeeiros, sempre tantos, quase todos acesos. Sinto o vento. Penso em mim. E no futuro. Principalmente nas decisões que tenho que tomar, sem querer, ou por querer, simplesmente, não me sentir mais cansada.
1 +1 = 2
Hoje, ao acordar, construí um pensamento positivo e tentei, com muita força, mantê-lo para o resto do dia. Mesmo com um dia cheio de aulas (como o são todos os dias) e poucas horas de sono, não me deixei vencer pelo cansaço. E mesmo sabendo o que os próximos quatro meses exigem de mim, mesmo sabendo que pouco sei sobre o que depois irei fazer, sem saber se ficarei por aqui ou se me arrisco numa aventura pela terra dos hindus, mesmo assim, consegui respirar fundo e aguentar mais um dia. E este, assemelhou-se bastante àqueles dias em que não existia nada com que me preocupar, havia sol, sorrisos, calor e emoções que me enchem o peito.
A cabeça não sossega. Por vezes, até dói. Mas porque não aceitar tudo? Aceitar simplesmente. Dar a devida importância ao que realmente faz bem e, distraidamente, aceitar tudo o resto. Aceitar os meus tiques. O tempo cinzento. O cansaço (porque faz parte, e sempre fará, desta alma que já nasceu cansada). As palavras soltas que ferem sem querer. O sorriso sem sentido. Os passos desalinhados. O tic tac do relógio - o passar do tempo tão veloz e brutal. E o silêncio.
“We live in illusion and the appearance of things. There is a reality. We are that reality. When you understand this, you see that you are nothing, and being nothing, you are everything. That is all.”
Kalu Rinpoche
O pai já pendurou o candeeiro. E o quarto – sim, tal como o disseste – ficou ainda mais bonito. Espalhei mais umas quantas fotos e ainda não arrumei os papeis.
Tenho matéria universitária a procurar. Prometido é devido. E já arrasto isto à algum tempo e faz-vos falta, como a mim me fez um dia. E volto novamente com a conversa sobre o final da minha correria académica. De um percurso que não sei qual o seu fim.
Com um sorriso nos lábios..
Até amanhã.