"Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá,
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar,
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia, enfim,
Descolorirá"
~Aquarela de Vinicius de Moraes e Toquinho
Há quanto tempo ando a pensar nisso? Há tempo (mais do que) suficiente. O suficiente para perceber que não mudas. Para perceber que as promessas e os objectivos que definiste dissipam-se no ar. Incoerências, digo-te eu. Pergunto-me se algum dia perceberás o sentido da tua vida. O verdadeiro sentido. E não meras suposições do que poderás vir a ser. - O mais interessante é que sei que vives. Vives uma vida enquanto morres. - Como areia por entre os dedos, escapam-me as manhas e as tardes. E as noites. Tenho nas mãos o pó dos dias que foram. Apenas guardo os extremos. E tu sabe-lo tão bem. O resto esfuma-se, perco-lhes os contornos, a sensação, o sentido. Deixei de procurar o porquê. Contrariamente, encontro incertezas no que me disseste que não foi. E que afinal, é. E, por isto, deixo todos aqueles momentos esfumarem-se na voragem do dia-a-dia.
A única diferença de ontem e de hoje, é que hoje cheguei aqui. Sou nada mais, nada menos do que o meu caminho. E sinto-me tão bem por a cada dia o desenhar melhor. E como mostra o post abaixo: Não interessa. Caso erre, tento de novo. E se falhar de novo, falho melhor. Simplesmente porque lutei e esforcei-me para ser melhor.
Objectivos: Chegar a Milfontes (o carro ia super cheio!); acampar e conseguir dormir numa tenda para 3 pessoas.
A Princesa do Alentejo não é ao virar da esquina. E como tal, contámos com uma óptima condutora e uma GPS (descoberta ao longo da viagem: a Cláudia tem um óptimo sentido de orientação).
Depois de cerca de 200km e muita música da nossa infância à mistura, cumprimos o primeiro objectivo: chegada a milfontes!
Lá encontrámos o parque de campismo, definido previamente como o melhor devido aos fáceis acessos e aproximação da praia (apesar de continuarmos a invejar a estadia no SITAVA),
e conhecemos um segurança-de-parques-de-campismo bastante prestável... e importuno.
Apesar de nos ter informado do melhor lugar para estacionar o carro, criticou o sitio que escolhemos como nosso spot para montar a tenda. Para além de aparecer atrás de nós vindo do nada.
Ultrapassada esta questão, pusemos mãos-à-obra. Montar a tenda. A tarefa foi árdua mas demos conta do assunto. Experimentado o resultado e descoberta a electricidade estática, vestimos os biquinis e fomos até à praia. O tempo passou a correr! Quando demos por nós as barriguinhas davam horas. Banho, jantar à luz da lanterna e conversas nocturnas regadas de etanol.
Várias foram asdescobertas feitas nessa noite. Muitas perguntas e respostas. Mais cúmplices. E felizes.
Acordámos com o sol a bater na tenda. Cinco moçoilas, numa tenda para três, a fazer sauna. Antecipadamente planeado o sabádo, pegámos no farnel e fomos à piscina do tão gobiçado SITAVA. - Sem esquecer a passagem pelo café-da-senhora-e-senhor-estupidos-como-o-caraças que me disseram "Esta nao é a terra dos croissants". - E resumindo e concluindo: há miudas não-malucas e depois existem elas. Andei a fotografar tentativas intrutiferas de jogos na piscina, leia-se lutas. Caiam porque mal se mantinham em pé mas reclamavam o prémio de equipa vencedora. O vento nesta terra é constante e lá fomos procurar o abrigo do sol com os seus raios quentes =). O mais-melhor-bom destes momentos? A conversa sem fim. Por tudo e por nada. Pela nossa infância. Por roupa. Por música.Pelas universidades. Por dúvidas. Pelo amor. E pelo sexo. Por aquilo que somos e temos tanto a contar.
Nesta tarde chegámos a uma conclusão: as alfacinhas dão nas vistas, apesar de toda a doidice que temos impregnada no corpo.
Final de tarde, saída do SITAVA rumo ao centro de Vila nova de Milfontes com o proposito de conhecê-la melhor. Descubrimos o estuário do Mira, por onde, há muitos séculos, andaram celtas, fenícios, gregos, cartagineses e, claro, romanos e árabes. Procurámos o castelo e encontramos um pseudo-castelo com uma antena
parabólica em cima. Fomos más visitantes ao brincarmos com o monumento aos aviadores, que recorda que foi dos campos vizinhos que descolaram Brito Pais, Sarmento de Beires e Manuel Gouveia, em 1924, para um arriscado voo que os levaria a Macau. Olhos indiscretos fizeram com que parassemos com a brincadeira. Correria escadas abaixo com a Cláudia e brincadeiras em que a Ana não queria entrar. Homem a apanhar qualquer coisa no areal e a curiosidade inata da Patrícia. Constatação: as pilhas das máquinas estavam a chegar ao fim.
Mais uma visita ao supermercado, com o habitual carregamento de provisões. Jantar e saída para a Mabi, a gelataria com os melhores croissants de Vila nova de Milfontes. Depois de nos apercebermos do quão espalhafatosas estávamos aser, decidimos por unanimidade em deixar aquele lugar já tão marcado com a nossa presença. Vagueámos pela vila numa tentativa vã de encontrar um bar. Cansadas, terminámos a noite alegres na tenda a conversa sobre o mesmo da noite anterior.
Como sempre a Ana foi a ultima a adormecer.
Último dia. Pequeno almoço: croissants na Mabi! E último passeio pela vila. Achámos uma casa número 69 e fizemos de coelhinhos.
Sorrimos para a foto!
De volta ao parque de campismo para arrumar a tralha no carro e a tenda. Voltas e mais voltas e a tenta por arrumar.
"Não, não é assim." Dobra de um lado, dobra do outro. Somos umas incompetentes.
Ajudadas por um jovem (bonito, sim!) que antes de sair de casa teve a inteligencia de ver no youtube como se fecha uma tenda. Lá pusemos os neurónios a funcionar e o resultado final foi excelente: tenda arrumada!
No fim, gastar a última bateria das máquinas em palhaçadas.
Caminho de regresso a casa com paragem no McDonald's para um almoço tardio. 17h. Setúbal. McDonald's com mais prémios que já vimos. Filmagens na ponte Vasco da Gama. A despedida e o desejo de mais um fim-de-semana assim. =)
Horoscopo: "Quando temos demasiadas coisas para fazer e não nos conseguimos organizar podemos correr o risco de perder o controle da situação e acabamos por não fazer nada. Estabeleça prioridade!"
in Metro
A verdade é que não tenho parado mas está tudo definido e estabelecido. Apesar de algum sinal de cansaço, a semana ainda não acabou e para a semana é que há festa(s). (:
Perguntam-me muitas vezes o que vejo no areal e no mar. Admiram-se como posso ir e estar naquele lugar sozinha...
Vejo o mesmo velho pescador dia após dia. O homem do tractor também me conhece. Os pescadores voltam a entrar no mar. Sempre com a ajuda do tractor. Os surfistas de prancha na mão. Segundos depois deslizam nas ondas. Do meu lado direito forma-se sempre uma lagoa onde outrora as crianças brincavam, agora as gaivotas nadam. A casa verde fica quase sempre nas minhas costas, enquanto rapazes jogam à bola do meu lado direito. O comboio continua a trazer e a levar pessoas. As construções na praia continuam a fazer-se. Ocasionalmente passam pessoas a fazer a sua ginástica diária. Eu durmito a minha sesta. Levanto-me e molho os pes e as pernas. Ponho as mãos na água e passo-as pela cara. O cabelo voa ao sabor do vento. Hoje faz mais frio. Gaivotas em terra, tempestade no mar. Preparam-se mais dois barcos para entrar no mar. A manobra é sempre igual. O tractor arrasta o barco até à rebentação - o que o obriga também a entrar no mar - e os pescadores seguem-no como se se tratasse de uma procissão. Pergunto-me daqui a quanto tempo regressam. As gaivotas mudaram de sítio. A agitação incomodou-as. Faz cada vez mais frio, o lenço pouco protege e o vestido é curto. As nuvens tapam o sol. São 16h30. Gaivotas no céu. Alguém as espevitou. Talvez o cão que agora brinca efusivamente com um pescador. Bem, arrumo a pena da gaivota e a concha enorme que encontrei. Quinta feira, sem duvida alguma, trago casaco. (como habitualmente, no caminho até à paragem de autocarro vejo gatinhos e o cão branco)
Daqui a pouco sigo viagem. A mala continua aberta em cima da cama após várias tentativas de a fechar. É terrível quando só podemos levar pouca coisa. - Sim. Correcto. Tudo o que preciso estará no destino. E sim, vou absorver cada momento ao máximo. E tirar várias fotografias! – As mulheres são terríveis, dizes-me tu. Concordo contigo. Um par de calças, uns ténis, duas camisolas, um casaco e um top e estava a brincadeira feita. Mas não. As mulheres não! Tentam(os) enfiar o mundo numa mala. E, como é óbvio, não há mala que resista. Não há mala, nem paciência.
- E paciência é o que tens pouco, não é Miguel? -
Faltam menos de quatro horas para ir e este contratempo tem que ser resolvido rapidamente. Supostamente. Recosto-me na cadeira e olho mais uma vez para a mala. Tenho tempo. Não tenho é sono. Culpem-me por querer viver todos os minutos desta semana. Por querer mais do que já é tanto.
Este chão que piso torna-se, a cada passo dado, um pouco mais consistente. Talvez porque foram dados os passos certos. Ou porque foram tomadas as decisões correctas, e mesmo tendo sido incorrectas, que me conduziram a este ponto. Talvez porque tenho alicerces fortes que me ajudam, a cada dia, a dar passos mais firmes. Talvez porque sou forte. Ou talvez porque é o destino e é somente assim que tem de ser.
Ainda há muitos passos a dar. Imensos. Incontáveis. E não, não estou sozinha neste (meu) caminho. Apesar de muitos trilhos terem sido percorridos sozinha. Porque o quis ou porque assim teve que ser.
E bem, aqui vou eu pisar um pouco mais deste chão. Chão que desconheço mas que se tem mostrado muito surpreendente. Há muito por descobrir e, principalmente, por aprender. E os primeiros passos já foram dados nesse sentido. Daqui a semanas talvez vos diga o quanto aprendi sobre mim própria.
O apoio.A motivação.A amizade. As palavras. As frases. Os textos. Os momentos. A paciência. A preocupação. As respostas. E as perguntas.O tempo. A procura. O incentivo. A ajuda. A força. A participação. O empenho. O amor. As mensagens. E os telefonemas. A presença.
Por mais que a previsão meteorológica nao seja de sol, eu vou à praia E vejo o mar para me acalmar. E do mar trago o que é do mar: A pele vestida de sal, o sol no corpo e a areia fina. A alma leve. E o corpo cansado no final do dia.
Agora chove lá fora, molhei os pezinhos E aconcheguei ainda mais o lenço ao corpo. Nao tive pressa para chegar a casa, ou a um lugar abrigado. Quis (re)viver aquele momento.