23 de julho de 2007

Solidão

Ontem afastei-me de tudo.
De casa, dos amigos, da televisão, do computador, do meu quarto, das minhas coisas.
Vi-me numa situação em que era só eu e eu. Senti-me sozinha apesar de estar acompanhada pelas minhas recordações. E elas contêm tanta experiência, tantos momentos vividos.
Sei que a ideia de estarmos sós é uma ilusão pois nunca estamos completamente sozinhos. Acredito que existirá sempre alguém disposto a dar a mão para ajudar.
Mas quando a solidão está presente sentimo-nos abandonados, quer estejamos na universidade, num bar, no trabalho e ate mesmo quando estamos em casa ao pé da família.
No nosso caminho tudo é passageiro. Até nós, enquanto simples seres humanos, um dia desapareceremos. Todos os momentos que perfazem a nossa vida surgem, permanecem por determinado tempo e acabam.
Não estou a dizer que vou parar de me apegar às pessoas e que me vou tornar insensível. Apenas irei começar a ter mais consciência que tudo o que tem um início também tem um fim.

Estes momentos de solidão conduzem-nos a introspecções profundas e que são importantes para o nosso crescimento. Auto-observações e lembranças que nos fazem sofrer. Mas este sentimento pode ser um motor para assumirmos completamente a nossa vida. Ou seja, saber agir por mim e pelos meus objectivos. Pegar neste sentimento (e na auto-observação resultante dele) e olhar para mim, ouvir-me e aceitar tudo aquilo que sou.

Pensar em mim primeiro.

À conversa que tive um dia com alguem com mais gotas de tinta que eu.

"A consciência é uma pequena lanterna que a solidão acende à noite."
Madame de Stael


Um comentário:

Pedro disse...

Bom tópico, muito a dizer sobre ele. No entanto, neste momento estou na solidão, na companhia de muitas solidões aqui no meu local de trabalho, lembrei me instantaneamente destes poemas que retratam um espirito que se sente inútil e despropositadas todas as suas acções.

SE RECORDO

Se recordo quem fui, outrem me vejo,
E o passado é o presente na lembrança.
Quem fui é alguém que amo
Porém somente em sonho.
E a saudade que me aflige a mente
Não é de mim nem do passado visto,
Senão de quem habito
Por trás dos olhos cegos.
Nada, senão o instante, me conhece.
Minha mesma lembrança é nada, e sinto
Que quem sou e quem fui São sonhos diferentes.


NADA FICA DE NADA

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, porque não elas?
Somos contos contando contos, nada.

Ricardo Reis (F.P)