Acredito nas prendas.
Acredito que nesta troca se partilhem sentimentos.
No entanto, ano após ano, vou desvalorizando esta demonstração de afecto.
Não acredito no "dar por ter recebido" e "receber por ter dado". O espírito natalício é muito mais que isso. É o reencontro de familiares, as luzes, o bacalhau, os pratos e os enfeites. São estes pequenos momentos que se geram nesta conjugação de características natalícias que me rasgam um sorriso. E fazem este dia um pouco diferente de todos os outros.
“Arreigou-se um uso social: natal exige troca de prendas, desde as mais nutridas que delapidam a carteira, às mais simbólicas. Uma lista infindável, um desafio à imaginação, convocada a desfiar as possibilidades que se encaixam no perfil das pessoas presenteadas. Que se chegue à frente a primeira pessoa que não ficaria ofendida acaso estivesse à margem do comércio de prendas natalícias. Esta troca de prendas é uma troca de afectos. Materializados os afectos, decerto, mas a expressão de um sentimento por quem recebe os presentes. O lugar-comum ensina que é a intenção que conta, não o valor, nem a utilidade, do que se oferece. Há muito subjectivismo neste lugar-comum: parece um escudo que defende quem oferece, desvalorizando a reacção de quem recebe.
Para os líricos que sublinham a pureza dos sentimentos, o natal seria feito de actos mais singelos: um afago, uma palavra de ocasião, gestos que enobrecem a pureza das relações humanas.”
O felino
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