16 de janeiro de 2008

"Tenho medo que a liberdade se torne um vício"

Já não me lembro ao certo onde a li.
Talvez numa entrada ou saída das carruagens do metropolitano. Com toda a correria habitual deste meio de transporte, vi-a de relance num outdoor e, no meio da confusão, tentei dar uma última espreitadela e ver o seu autor.
E ela ficou a ecoar na minha cabeça. Perseguiu-me durante todo o passeio pela baixa lisboeta.

Durante muito tempo tive medo de estar sozinha. Mas depois acabei por descobrir que nunca estive realmente sozinha. Primeiro, tenho a minha companhia e depois encontro-me cercada por pessoas que estão presentes em todos os momentos.
Agora o medo é outro.
Tenho medo de perder a capacidade de responder às perguntas, medo de não ter paciência com as banalidades do quotidiano (a dois) e medo de não ser capaz de mostrar os meus sentimentos sem sentir que estou a ser fraca. Tenho medo que este muro que construí seja uma futura razão para o afastamento de algumas pessoas.

Hoje procuro presentear-me com momentos que me façam sentir bem. Por isso, se deixo alguém passar este meu muro, espero que essa pessoa tenha a capacidade de me proporcionar o bem estar que procuro. E sim, é uma tarefa árdua porque a exigência é superior.

Mas estar só também implica muito. Implica ter os ombros suficientemente fortes para arcar com o peso das questões do dia-a-dia. Implica possuir uma força interior constantemente renovada para enfrentar sozinhos os medos interiores e exteriores que surgem. Implica procurar em cada momento mau uma luzinha que nos aqueça a alma e nos faça ter coragem para mais um dia. E outro. E outro.

A chuva que caiu durante o dia de hoje soube bem. Sabe sempre bem quando a irritação é pouca e a correria também. Gosto desta chuva que chega de surpresa. Não vale a pena abrir o guarda-chuva. Estas gotinhas escancaram a porta dos pensamentos e fazem-me pensar mais claramente.
Sem perceber como, hoje elas fizeram abrandar a velocidade do meu pensamento. E estas sensações e pensamentos foram sendo substituídos por uma espécie de calma. Nesse preciso momento apercebi-me que as poucas horas de sono estavam a ter efeitos no meu corpo. As gotinhas de chuva faziam-me sentir viva mas o corpo ressentiu-se.
Estava na hora de voltar para casa e recuperar as horas de descanso perdido. Repousar o corpo, a alma e o pensamento.

" Tenho medo que a liberdade se torne um vício, enquanto que agora é apenas uma saudade."
Miguel de Sousa Tavares, in Rio das Flores.


A saudade que hoje carrego na minha consciência pesa um pouco mais do que ontem.
A saudade dos bons momentos... criados a dois.

Um comentário:

Sara disse...

Saudade... um sentimento que toda a gente abarca... seja ela por quem for...

...obrigada pela visita =)

Gostei das tuas palavras...

Beijinhos