Chego à janela entreaberta e encosto a cabeça. E daquela abertura vertical entra um vento forte. Fecho um pouco mais o casaco. Os meus cabelos são sugados para fora. Oiço o assobio do vento. Os carros deslizam pela estrada molhada, como pontos móveis de todo o panorama. As árvores são empurradas pelo vento consoante a sua direcção.
E, impulsionada pela hora e pelo tempo, fecho a janela.
Minutos depois rumo a uma nova viagem.
As ondas embatem nos pilares da ponte. O vento continua forte. Olho o céu cinzento, carregado de nuvens ensopadas de água. O Tejo muito agitado. Alguns pingos de chuva no vidro. O silencio.
Tenho vontade de gritar o que vai cá dentro de forma espontânea. De dizer palavras sem pensar no abecedário ou entoar a pontuação.
Mas colo em mim as emoções.
Fico com a alma inteira.
Este tempo faz-me sentir bem. Recolho-me.
O vento torna as palavras, as pretensões e as ideias em insignificâncias que vagueiam incertas por aí. Estas coisas enigmáticas da vida, que me corroem os pensamentos e desgastam qualquer um, são um nada (que é tudo).
Decidida a não pensar mais nisto nem naquilo, deixo os cabelos viajar ao sabor do vento. Sinto os pingos de chuva na cara. E sorrio mais um pouco. Abandono os deveres.
Cessa-se o desassossego, por algum tempo.
No fundo, há momentos para nos preocuparmos e momentos para não nos preocuparmos (ou fingirmos que o fazemos).
Mas não.
E o céu?
Esse continua cinzento e bonito.
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