22 de janeiro de 2009

Pode complicar-se a declaração de amor, como faz Shakespeare no Mercador de Veneza, mas algumas vezes ir pelo caminho mais longo - não dizer logo amo-te - não é a maneira das pessoas se atrasarem, mas sim de poderem passar por sítios mais interessantes - disse a senhora Woolf.
Vês esta árvore, este lago, esta rocha? É simples: se tivéssemos ido pelo caminho mais curto não teríamos passado por aqui. Pode ser rápido ou longo ou meio longo mas é de certeza o caminho mais belo: eis por onde vai quem está apaixonado e se atrasa - disse a senhora Woolf.
Vejam como se declara Pórcia, a mulher apaixonado: Malditos sejam os vossos olhos que me tiraram o sossego e me dividiram em duas; uma das metades pertence-vos, a restante é só metade vossa e a outra parte minha, mas se é minha também é vossa e portanto toda eu sou vossa.
Era mais rápido dizer: sou inteiramente tua. Mas o amor gosta de brincar assim com a matemática, torná-la malabarista, fazer dela (da matemática) o que quer: torcê-la, cortá-la aos bocadinhos, saltar sobre ela - disse a senhora Woolf.
O amor pode fazer o que quiser com os números, tal como o poeta Vicente Huidobro faz. Ele escreve: Los cuatro puntos cardinales son tres: el sur y el norte.E são mesmo estes, de resto, os pontos cardeais importantes: dois. Preto e branco. Norte, sul. Gosta de mim, não gosta de mim. Que ridículo jogar com as pétalas do malmequer e utilizar, por exemplo, três hipóteses: mal-me-quer; bem-me-quer; mais-ou-menos-me-quer.
Ou sim ou nada, eis o que é necessário - disse a senhora Woolf.

por Gonçalo M. Tavares em
O caminho mais longo.

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