28 de janeiro de 2008

São tantos os sinais de nascença como o número de estrelas mas...

" (...) A pele enxerga melhor com sardas. São os óculos naturais da pele. Fogo que levemente doura. Brasa singela que acomete as árvores e o crepúsculo no Outono. Pão casado com a madeira.

As sardas são uma procissão da boca. Não retiram beleza, mas acentuam. Fazem qualquer rosto voar como os cabelos, subir como um vestido. Não deixam nenhum rosto brincar sozinho. São marcas de lábios das folhas. Uma chuva de folhas. O cheiro de alfazema das folhas.

O ouvido torna-se mais próximo das sobrancelhas, mais próximo do nariz, mais próximo do queixo. É possível acompanhar toda a vizinhança dos telhados.
As sardas são balas de goma, o açúcar das balas de goma.
Elas fazem o corpo rir mesmo quando está indisposto.
Uma mulher com sardas tem jeito de praça na encosta. Eu só subia a encosta da rua porque tinha uma praça no meio do caminho para brincar e recuperar o fôlego. A praça sempre foi a véspera de minha casa.
As sardas são a véspera do sol.

Um rosto com sardas, como podem reparar, é bem iluminado. Não pela luz que entra mas pela luz que já lá está."

por Fabrício Carpinejar, poeta e jornalista.

Um comentário:

Rute disse...

Oh, que texto lindo! Até certa idade, odiei as minhas sardas! Que com o Sol ainda se notavam mais. =P