12 de maio de 2008

A viagem.

O bem-estar na vida obtém-se com o aperfeiçoamento da convivência entre homens. Enquanto andarmos em guerra com todos e principalmente connosco próprios, o bem-estar está fora do nosso alcance.”

Assim, parti na sexta-feira numa
espécie de escapadela. A necessidade de respirar outro ar, mais puro, de conviver com outras pessoas, de estar meramente fora daqui. Pensar noutras coisas ou simplesmente não pensar.
Sair, só e apenas.
A viagem terminou passado quatro horas de expresso e mais hora e pouco no autocarro até Gibaltar. Estava cercada de verde. O que não esperava era ver tantos prédios construídos ora aqui, ora ali. Um verdadeiro contraste entre a serra e a cidade
. O Gibaltar é apenas uma vila anexa à freguesia do Teixoso, situado nas abas da Serra da Estrela.
Faz frio. Tanto lá fora como cá dentro. Saímos da cidade à procura de alguma paz mas somos perseguidas pelos seus tormentos. Apoiamo-nos e procuramos a nossa força interior que nos mostra o quão bom é estarmos aqui. Longe de
tudo, apesar de tudo.
Entro na casa da D. Fernanda, conheço a habitação, poiso o saco, converso, janto e deito-me na cama estafada. Acordo no dia seguinte para uma ida ao mercado que se mostrou infrutífera porque poucos, ou quase n
enhuns, eram os comerciantes. Ora entramos num café, depois numa pequena loja, a seguir numa mercearia… Vou-me reabituando a esta vida da qual já não conhecia o gosto faz muito tempo. Faz-me lembrar os tempos em que passávamos as férias ora em Chaves ou Braga durante as férias escolares. O tempo muda e nós mudamos com ele, e hoje pouco é o tempo que temos para essas longas viagens.
No regresso a casa decido ficar a meio caminho para perceber de onde vinha o miar que me tinha ficado a ecoar na cabeça desde que tinha saído de casa para ir ao mercado. Depois de procurar, encontro um pequeno ser enfiado num buraco de um muro.
É um gatinho.
Tem talvez um mês ou menos. Pego-o ao colo e vejo que está bem tratado. Sei que alguém o abandonou
e isso, mais tarde, foi confirmado pela história que duas ou três pessoas me contaram. Fico bastante triste por saber que alguém teve a capacidade de deixar um animal à sua própria sorte. Sem pensar muito no assunto, e com a ajuda de terceiros, arranjámos uma caixa para o gatinho, com manta e leite quente.
Naquele momento não se podia fazer muito mais. Estávamos de pés e mãos atados.
Deixei-o ali.
E é nestes momentos que a razão e o coração se juntam, e cada vez que por ali passava ia sempre buscá-lo, punha-o no meu colo e fica
va um pouco com ele. Mas daí até começar a ir buscá-lo propositadamente para ir passear, foi um passo.
As horas passaram depressa e os três dias evaporara
m-se.
Ora de regressar.
Todos caminham de mala posta pela rua abaixo e eu paro em frente ao pequeno caixote. Tiro-o e decido levá-lo para Lisboa. Entre a probabilidade de ser apanhada no expresso com ele o
u deixá-lo ali à própria sorte, decido arriscar.
A viagem foi atribulada porque o pequenote não parou de miar até se sentir em casa... até se sentir protegido.

Mas valeu a pena...
















Uma nova oportunidade.
Uma viagem.
Uma vida.



(=


5 comentários:

R disse...

Correste o risco =P

Rute disse...

Oh!!! Que querida!!! Eu fiz o mesmo pelo meu roney, nasceu numa ninhada na rua, estava todo sujo, era inverno frio. Fiquei com pena por não poder trazer mais, mas assim que olhei para aqueles olhinhos castanhos apaixonei-me. E não há nada nem ninguém que o subtitua. O meu Roney é sem dúvida o meu menino lindo! A vida tornou-se diferente desde que o tenho. E não consigo pensar nela sem ele! :D

Fizeste tu muito bem em arriscar! Foi um sortudo ele! Mara muitos terem a mesma sorte e mara eu muitas pessoas fazerem o mesmo. Eles dependem tanto de nós e dão-nos tanto sem pedir muito, um pouco de mimos e alimento, pouco mais.

De noite quando me vou deitar, volto-me para o fundo da minha cama (onde dorme o roney) e deito a minha cabeça sobre ele, gosto de fazer esse ritual. Eu sei que pareço meia louca a tratar assim um cão, mas ele é um lindo e merece todo o carinho que eu consiga dar :D

Anônimo disse...

é uma ela e tem olhos azuis! :)

Anônimo disse...

Que gatinho fofo...

Joana disse...

És linda....

E de facto as tuas palavras comovem...