Reparo numa mão estendida. Um senhor diz-me "A menina não precisa de creme. Quem precisa de creme sou eu. Veja as minhas mãos de trabalhador." Sorrio e aperto com força a bisnaga. Espalhamos o creme ao mesmo tempo.
A menina ao meu lado sorri.
(=
"Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá, O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar, Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia, enfim, Descolorirá" ~Aquarela de Vinicius de Moraes e Toquinho
Hoje nada conspira contra o meu sorriso.
... conduz os meus passos no ritmo da tua dança.
Já oiço o som perdido no ar!
por Carla Salgueiro
Amanhã os ponteiros do relógio mudam mais uma vez.
Atraso de 60 minutos.
“Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem duvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me Aqui estou!
(…)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que o conheça,
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.”
O sol reflecte-se na água,
Vejo os brilhos.
Tudo parece calmo lá em baixo.
O rio, a brisa, as ondas, o sol.
Aqui em cima, a vida citadina. Os carros, a confusão.
O tempo segue o seu caminho e eu paro.
O meu pensamento desliza rio dentro.
Fecho os olhos e transporto-me para lá. Para baixo.
Deixo que aquele momento me devore.
Acalma-me a alma, carente.
Encontro de mãos.
Chamada à realidade.
De novo sentada no lugar do passageiro.
Sinto o calor…
De uma mão pousada na minha.
E assim, do silêncio, nascem pequenos momentos.
Preciosos. E imprecisos.
"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas.
Essas e o que faz falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço..."
Álvaro de Campos
A necessidade de dormir umas boas horas de sono...
D-e-s-c-a-n-s-o. Precisa-se. Muito.
Apetece-me soltar o Grito.
E ficar no silêncio.
Sentir a chuva.
Ser ofuscada pela luz do sol.
Ser terra.
E mar.
Forte.
Ontem fraca.
Ser nada.
E amanha tudo.
Abro um sorriso solitário. Secreto.
Que desvenda calmamente o que vai cá dentro.
Deixo-me levar,
Sigo a letra,
Absorvo cada frase.
Respiro mais devagar do que o habitual.
A melodia, o cansaço,
Esta dor que se instalou no meu corpo...
Sinto-o a ficar cada vez mais fraco.
Consinto esta invasão.
Aquela voz inconfundível…
Quero apenas fugir da dor física.
Solto o meu pensamento,
A minha alma desprende-se.
Limito-me a deixar ir.
Better days will come ;)
PS.:
Esta minha ausência deveu-se ao piripaque que o meu monitor sofreu. Agora tenho uma coisa gigantesca à minha frente que quase me ofusca… Enfim. É bonito sim sr e não tenho do que me queixar.
"O tempo endurece qualquer armadura
E às vezes custa arrancar
Muralhas erguidas à volta do peito
Que não deixam partir nem deixam chegar"
Mafalda Veiga - Fim do Dia
Sarah Bettens - I'm Okay